domingo, 2 de março de 2008

Eclipse da Lua

Finalmente cheguei. Um mês. Um mês apenas a saber de cór o pó do trigo, o amarelo da seara. Já nem conhecia o som do mar. O cheiro. Hmm, saudade. Levas-me. Reconheço o sítio. Chegamos e sais do carro... vais ver de perto o mar. Fico empoleirada na porta a ver-te. Sorrio. Observas os pormenores, eu sei que sim. Olhas para trás e sorris. Apontas. Aproximas-te, as nuvens reflectem na água apenas com o brilho da lua, dizes. Está tudo tão calmo. Não há brisa. Apenas a luz da lua e nós. Encostados ao carro, ali ficamos. Orion. Esperamos o eclipse da lua. Era hoje. Um beijo. Outro. Adoro. Sítio bonito. Sinto-me tão bem, aconchegada. Protegida, tenho-te de novo. Hum hum. Eclipse da lua... nem vê-lo. E foi tão bom.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Sozinha


Aqui estou eu. Eu e ela que cai lá fora. A minha única companhia. Olho pela janela e ainda vejo uma luz num prédio em frente. Alguém como eu. Alguém sozinho, apenas na companhia dela. Queria tanto ir senti-la. Mas não posso. Estou trancada por estas paredes e a preguiça não me deixa libertar-me daqui. Fico-me pelo sentir pla janela. Está fria. Sabe tão bem. E a luz continua naquela janela. A preguiça também trancou aquela pessoa. Mas amanhã... amanhã vai ser diferente. Amanhã vou ter com ela. Vou poder senti-la. Quero deixar-me molhar. Ao menos ela está ali para mim. Bate na janela. Oiço-a. Ao menos, ela está ali quando toda a gente decidiu deixar-me aqui sozinha.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sem fim - Para lugar nenhum

Pego nas chaves do carro e vou. Saio de casa com alguma pressa. Mas pressa de quê? Parvoíce. A noite está cerrada, não há barulho. Apenas a porta do carro a fechar-se. Cinto. Rádio. Música alta. Faróis. Eu. Eu e o negro da estrada. Deixo-me apenas ir plas curvas e contra curvas. O caminho é longo. Longo? Mas para onde vou eu? Pois não sei. Mas tenho certo que sei como lá chegar. Céu estrelado. Vejo a Ursa Maior, vou para Norte. O rádio vai tagarelando e eu continuo na mesma estrada. Estrada escura. Sozinha. Precisava deste retiro há algum tempo. Ir para lugar nenhum. Só ir. Tocar um novo ar. Continuo a minha viagem... começa a aparecer a luz. Já é quase de dia. Já andei tanto. E sono...incrível, não tenho sono. Aurora. Páro o carro e saio. Abro os braços e recebo aquela energia. Aquele ar puro do campo. Óptimo. Faço-me de novo à estrada. Continuo a viagem...

Essa gente

Criança feliz, aquela. Aquela que ali vai. Parece sozinha, mas feliz. Leva no pulso um balão. E corre. E o sorriso. Sorriso de criança. Sorriso de felicidade. Felicidade por estar ali. Os olhos brilham-lhe. Sente-se pequena ao olhar para aquele mar de gente. Gente que fala outra língua. Gente que ela não entende. Gente que apenas com um olhar a cativam. Gente que ela tem a certeza que gosta. Não entende mas consegue percebe-los. Ali naquele mundo tudo muda. E corre. Corre para ver melhor. Corre para ver bem de perto. Tão feliz. Gargalhadas. Bate no vidro, chama aquela Gente. Gente de várias cores. A Gente olha para ela. Também não a percebem. Mas sabem que está feliz. Ela sorri. Olharam para ela. Deram-lhe atenção. E sorri. Apesar de tudo, aquela Gente parece sorrir-lhe de volta. E vai. Vai para outro vidro. Outra Gente. Sorriem-lhe de volta. E vai. Feliz.

Culpa dela



Miúda louca esta. Apaixonada. Parece ser a primeira vez. Mas não... Já teve mais homens dentro de si. Vai pla rua escura. Apenas o barulho dos seus passos e acompanhando-a em compasso, alguém. Olha para trás. Ele. Finge não o ter visto e continua com o olhar fixo no fim da rua, na certeza de ser aquilo que quer: esquecer. Os passos dele tornam-se rápidos e ela continua na sua dança com as estrelas, sempre com o mesmo toc toc na calçada fria. Toca-lhe. Ele toca-lhe. Um arrepio. As borboletas na barriga crescem. Começa a tocar-lhe com um jeito de pertença. As mãos começam a percorrer o corpo.. os olhos fixos começam a penetrar um no outro. Ela agarra-o com força. Encosta-o à parede e beija-o. Ele retribui... Culpa dela. E ele não lhe resiste. E continuam. Beijos. Paixão. Apenas o som do prazer de corpo contra corpo. Pele. E a verdade. A verdade eles sabem-na. São cúmplices. Complementam-se e fazem juras de amor ao ouvido. Adoro-te. O brilho nos olhos aumenta. A respiração acelera. Caem em si. Estão na rua. Sentam-se no chão e ficam. Exaustos. Cheios de um amor impossível. Tão impossível que não conseguem esconder.

Tempo

Apetece-me ir embora... Sim, pisar outro chão. Deixar-me tocar por outro ar. Outra gente. Outros olhos. Outros prédios. Desaparecer com o vento. Tou confusa. A minha cabeça pára ou gira com muita força. Tanta força essa que apenas consigo ver imagens sobrepostas. Chuva Oblíqua. Estranho. Mas é isso que sinto. Era o que queria agora. Sair daqui. Ter tempo para mim. Ficar a olhar as estrelas até nascer o sol. Ficar numa conversa agradável contigo.. Uma gargalhada para quebrar. Era tão bom. Dormir o dia todinho e à noite...Viver de novo. Viver.

Vida Efémera

Silêncio da multidão. Efemeridade da vida. No rosto húmido daquela mulher...tristeza. Um homem. Uma perda. Uma vida a dois destruída. Um pai que chora. Uma filha que se mostra forte. Lá dentro... É lá dentro que dói e nem consigo imaginar o quanto. Mas não o mostra. Torna-se mais forte. Torna-se mulher sem saber bem porquê. Leva o peso do mundo nas costas... Mas nunca chora. É forte. Aparenta. O barulho das pás arrepia-me. E a ela... parece nem lhe chegar. Despedidas. Para sempre é muito tempo. Mas sim, para sempre. E ali ficaram... no silêncio da multidão. Vida efémera.